Parashá EMOR


Parashá Emor - Resumo
É ordenado aos Cohanim, sacerdotes, evitar contato com cadáveres afim de manter um nível elevado de pureza ritual. Lhes é apenas permitido assistir ao funeral de apenas sete parentes próximos : pai, mãe, esposa, filho, filha, irmão e irmã solteira. O Cohen Hagadol, o Sumo Sacerdote, não pode assistir a nenhum funeral, nem sequer de seus parentes mais próximos.

É imposto aos Cohanim certas restrições no casamento. O povo tem o dever de honrar os Cohanim. São descritos todos os defeitos físicos que invalidam um Cohen de servir no Templo. A teruma, o dízimo, que se entrega aos Cohanim só pode ser comida por estes e suas famílias.

É dada a ordem ao povo para santificar o Eterno, kidush Hashem, levando uma vida exemplar, renunciando à vida antes de assassinar, manter relações ilícitas ou adorar ídolos.

São descritas características especiais de várias festas e é lembrado ao povo que durante as festas não se pode realizar certos trabalhos criativos, melachot.

Os grãos novos só podem ser utilizados no segundo dia de Pessach quando se oferecia o Omer de cevada no Templo.

São explicadas as leis de preparação do azeite do Candelabro, Menora, e do Pão da Proposição, lechem hapanim, do Templo.

Um homem blasfema contra o Eterno e é executado conforme a prescrição da Torah.


Parashá Emor - Comentários
Certa vez, recebi uma carta que dizia : "Por motivos de foro íntimo e pessoal, consciente deste meu ato, solicito de Vossa Senhoria me considerar desligado da religião judaica, de seus ritos e de suas tradições. Sem mais, apresento a Vossa Senhoria atenciosas saudações."

Por instantes imaginei que fosse alguém se desligando como membro da CJB... Mas, passando os olhos, com um misto de atenção e de incredulidade, vi que se tratava da tradição como um todo.

Certamente, esta não é a primeira vez que isto acontece... Os números dos judeus falariam outra realidade se tivéssemos tido uma caminhada linear desde os 7 milhões de judeus que viviam em Israel no ano 40 da Era comum. A população do mundo, aproximadamente, dobrou a cada século acelerando-se este processo desde a Revolução Industrial. O número de judeus no planeta deveria estar na casa de centena ou centenas de milhões, não tivéssemos uma história de debandadas através do longo percurso.

O mais impressionante é que os momentos de maior tranqüilidade sócio-política e de maior tolerância religiosa foram os períodos onde estas perdas se deram com maior intensidade. Na verdade, foi nos períodos de bonança, entre as muitas tempestades que experimentou o povo judeu.

Não foi insignificante na Alemanha pré-nazista o número de judeus que mudaram nome e religião, não por mera convicção...

Conta-se que alguns amigos perguntaram ao Prof. Chwolson porque teria se convertido para outra religião :

Por convicção, respondeu o professor.
Por convicção, lhe perguntaram ?
Por convicção de que é melhor ser um professor em St. Petersburg do que um melamed (professor de tradição para crianças) em Shklop.
Pergunto-me sobre esta pessoa que me escreveu a carta... Este é certamente um pedido de ajuda : Rabino, me ajuda a me livrar deste fardo ? Será um fardo histórico ou coletivo ? Ou um fardo de ressentimento individual, de magoa, de solidão ou de vingança ? Seja como for, esta pessoa tem um problema : eu não posso liberá-la... Eu não possuo esta autoridade.

Interessante isto de que uma pessoa possa entrar na tradição de Israel e ganhar reconhecimento absoluto, ao mesmo tempo que não pode sair. Sim, porque uma vez judeu, sempre judeu, reza a jurisprudência judaica. Não há forma de desligamento deste clube (recordo-me de uma experiência angustiante - leav'dil - de um cartão de crédito que não me desligava de seus serviços e continuava a cobrar-me mensalmente por algo que não queria).

A porta é rotatória por dentro, mas não por fora. Recordemos a famosa história do banqueiro americano Otto Kahn que se converteu para outra tradição. Certa vez, andava junto com um amigo que era corcunda, quando cruzaram a porta de uma sinagoga.

No passado, já fui judeu, comentou Kahn.
E eu já fui corcunda, reagiu seu amigo.
Que estranho processo é esse em que há um processo de entrada mas não há processo de saída. Nada que conhecemos funciona com estas características. Mesmo na vida, com todo o seu mistério, não é um processo desta natureza. Arriscaria dizer que conheço um único processo que funciona de forma semelhante : a consciência. Quando um indivíduo tem consciência de algo, não tem mais retorno. Pode transgredir esta consciência, mas jamais deixará de tê-la. Esta é a maldição da própria árvore do conhecimento. O mundo fora do paraíso tem entrada por onde nossos antepassados, Adão e Eva, passaram, mas não tinha volta. A espada flamejante ainda guarda este portal de retorno à inocência e à indiferença.

Meu amigo da carta terá que dar conta de seu problema sem um rabino para auxiliá-lo : é que não se oferece préstimos rabínicos para quem quer sair. Talvez, a mensagem dos rabinos do passado que diziam que o mandamento "ani haShem Eloecha"(eu sou teu D'us) possa ser de valia. Eles alertavam que D'us não se revelara ao grupo (Eloheichem), mas a cada um de nós, como evidencia a segunda pessoa do singular.

O endereço da carta estava errado. Seu destino é os céus. Tudo o que eu posso fazer é não mais enviar nossa correspondência.



Parashá Emor - Comentários de Ricardo Redisch

Shabat Shalom!

A parashá Emor, que estamos lendo esta semana, concentra-se no comportamento e nas funções dos sacerdotes, os Kohanim, e também em instruções detalhadas sobre os rituais e as datas de Pessach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucót e Shemini Atzeret. Ela prescreve regras específicas para os sacerdotes no que se refere ao luto, ao casamento e relaciona também defeitos físicos que impedem a participação em certos rituais.


Ela prescreve manter acesa a chama eterna no Tabernáculo, e mais tarde no Templo, e colocar chalot sobre a mesa pura, diante do Eterno, a cada Shabat.


Em seguida, temos um relato que ilustra as terríveis conseqüências a quem blasfema o Nome de D´us, assim como uma série de regras referentes ao sacrifício de certos animais, e também preceitos criminais, inclusive o célebre “olho por olho, dente por dente”.


Ao final, vemos expresso o importante princípio de que todos, peregrinos ou israelitas, são iguais perante a lei, estatuto básico do moderno Estado de Direito e de qualquer sistema jurídico equânime e democrático.

Alguns comentaristas afirmam que todos nós temos uma centelha da alma de Moisés dentro de nossa própria alma, e que a leitura da comunicação estabelecida entre D´us e Moisés pode acender essa fagulha pessoal.


O rabino David Wolff-Blank, sempre lúcido e original, assinala, inclusive, que cada um de nós contém dentro de si algo dos sacerdotes da Torah. E sugere que nós somos pessoas comuns que também são Kohanim – sacerdotes lá no fundo, Kadosh dentro de nossos corações. E é por isso, prossegue Wolff-Blank, que muitas parashiot dirigem-se aos Kohanim. Elas como que falam a um lugar central em nossos corações, onde temos de manter um alto padrão de conduta e sermos responsáveis por ajudar a re-equilibrar as pessoas que encontramos, a comunidade da qual fazemos parte, e o próprio planeta que habitamos, hoje tão carente de atenção e cuidado.


Seguindo um roteiro proposto pelo rabino Wolff-Blank, destacamos a seguir alguns comentários sobre trechos desta parashá.


O primeiro deles refere-se à passagem “Fala aos sacerdotes, filhos de Aarão, e lhes dirás: O sacerdote, por um morto entre seu povo, não se fará impuro – exceto por seus familiares mais próximos”.


Por que não? O que é “impuro” quanto à presença de um corpo sem vida? Segundo Reb Zalman, não é o morto que nos torna impuros, mas sim a raiva e a revolta que sentimos diante dessa realidade, e que transformam nosso bem-estar em amargura. Para Reb Zalman, é impossível dizer uma bênção quando estamos amargos, com raiva, e a função do sacerdote é justamente abençoar, curar e reconfortar.


Embora obviamente sejamos humanos e solidários nas tragédias dos que nos são caros, a nossa porção sacerdote, nossa porção Kadosh, é conclamada a permanecer imune, afastada da indignação e da revolta, para que possa curar as outras partes do ser, e também a todos que buscam conforto nesses momentos.


O rabino Moshé Hayim Efraim de Sadilkov apresenta uma outra interpretação deste mesmo trecho que nos parece importante. Para ele, a maior impureza é rezar com apatia e frieza, sem uma real conexão com o que estamos dizendo.


O próximo trecho que destacamos é aquele que diz “O sumo-sacerdote não sairá do santuário”. Para o Bal Shem Tov, esta passagem mostra a importância de estarmos sempre em uma atitude de louvor e bênçãos ao Eterno. “Nunca desvie sua atenção da maior meta da sua vida”, nos diz o grande mestre chassídico. “Mantenha sempre viva em seu coração a meta da conexão com o Eterno. Assim, você estará sempre ´dentro do santuário`”.


O próximo trecho destacado nos diz o seguinte: “E quando oferecerdes sacrifício de graças ao Eterno, para que seja aceito conforme a vossa vontade, o oferecereis, e no mesmo dia será comido; não deixareis ficar dele até pela manhã.” O rabino Moshé de Ohel interpreta esta passagem da seguinte forma: “Não fique sempre remoendo suas preocupações com o amanhã. Confie. Tenha fé. Coma hoje o que você tiver em casa, com emunah, confiança de que haverá mais amanhã.”


Sobre o trecho que diz “Estas são as festas fixas do Eterno que proclamareis para santas convocações, para oferecer oferta queimada ao Eterno, oferta de elevação e oblação, sacrifício e libações, cada qual em seu dia próprio”, o rabino Levi Itzhak de Berditchev comenta: “Cabe a cada um de nós se entregar por inteiro a cada uma destas festas. Ansiando por elas de todo coração, com uma cuidadosa preparação física e psíquica, devemos trazer à tona o profundo sentido de cada festa. É importante que elas sejam vivenciadas de forma completa; que sejam uma experiência transformadora, em todos os níveis da alma.”


Por último é importante mencionar a passagem referente à contagem do Omer, um período de 49 dias aonde, a cada ano, temos a oportunidade de percorrer um roteiro de purificação até o recebimento da Torah, em Shavuot. A contagem do Omer é um tema que, em si, pode e deve ser estudado em profundidade. Como introdução, recomendo o acesso diário ao site da CJB durante este período. Logo na abertura, em uma página separada, temos uma kavanah diferente a cada dia, com combinações entre as sete sefirot, que são excelentes exercícios de refinamento afetivo e emocional.


Shabat Shalom!


PARASHÁ