KISLEV

Rabino Nilton Bonder


 

 

No mês de Kislev passamos de um período de Hessed (compaixão) para um de G'vura (força). É tempo de Chanuka, de inverno no hemisfério norte. É saída da influência gratidão de Sukot para a esfera heróica dos Macabeus. Tempo de se enfrentar o frio e as noites mais longas do ano com esperança no milagre de renovação (chanuka) da vida.

Mas para nós nesta outra metade da laranja global, alguns acertos se fazem necessários para que nos adequar a este modelo "nortista". Verdade que o sol causticante exige um certo heroísmo e que é época de força e físico. Mas não há nenhum sentimento de ausência de luz, muito pelo contrário. Talvez devamos perceber ao sul do Equador a festa de luzes não tanto por sua ausência ou escassez, mas pelo excesso de luz que, paradoxalmente, nos cega.

Talvez devamos rezar não pela re-inauguração da luz que abandonou o hemisfério, mas enxergarmos a verdadeira luz em meio a tudo que ofusca. E é preciso coragem - G'vura - para atravessar o que nos cega. Com a mão à fronte, protegendo-nos da luz, atravessemos a ganância, o medo e a insegurança que reluzem tão poderosamente em nossos dias.

Quem sabe resgatamos a antiga disputa entre as casas de Hilel e Shamai. A primeira propunha que adicionássemos uma vela a cada dia da festa até a oitava. A segunda propunha o contrário: que iniciássemos com oito velas e suprimíssemos uma a cada dia da festa de maneira a permanecer apenas uma no último dia. Prevaleceu a opinião de Hilel uma vez que a idéia central da festa é acrescentar luz neste período nortista de escuridão.

Mas para nós aqui deste outro lado, em pleno verão, talvez fizesse mais sentido iniciarmos com luz total e fossemos decrescendo a cada dia. Estaríamos simbolizando a capacidade de perceber a verdadeira luz em meio a tantas outras. Seria um exercício de nos sensibilizar a perceber a luz focal em meio à luz genérica. Resgate da sombra tão fundamental num mundo de tanta claridade.

 

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