Parashá NITSAVIM / VAIELECH- Pédica do Rabino


O profeta Zachariah (4:6) nos deixa uma importante lição revelada a ele por D’us: Ló be-chail ve-ló ve-koach – Nem por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Esta é uma das indicações mais diretas de que é a força interna a fonte até hoje inesgotável da tradição de Israel. Este indicativo serve a todas as gerações como um guia definitivo da identidade judaica – ela não é externa, mas essencialmente interna.

Não podia deixar de ser que após milênios de inimigos externos tão concretos e com tanta força e tanta violência, viesse o povo de Israel a ser checado se ainda lembra desta máxima profética. Em algum momento os inimigos externos serão tirados de diante de Israel expondo-nos a todos diante de nossa Sin’at chinam – (ódio gratuito), nosso ódio que não é direcionado a um inimigo real e de direito mas que é produto de nossa insegurança e aspectos medíocres de nossa natureza humana.

Mesmo em meio a tantos inimigos reais externos, nossos sábios não deixaram de falar sobre os inimigos internos coletivos. Em Kipur dizemos inúmeras vezes que somos Am K’shei oref – um povo de pescoços enrijecidos. Aludimos assim aos efeitos colaterais da consciência de nossa própria força interna e à couraça que tivemos que criar para manter viva e sobrevivente esta força interna.

É chegado, ou se aproxima cada vez mais este momento histórico em que seremos checados por nossos inimigos internos. Por mais que muitos prefiram adiar esta penosa experiência preferindo encontrar inimigos ainda escondidos por detrás das cortinas, este dia chegará. Se ele não chegar Israel se esfacelará antes pois precisamos desta experiência para poder sonhar com um período utópico de paz e harmonia que há milênios visualizamos. Imaginamos este período como possível apenas se cumprirmos com nossa fé, crença e destino.

Temos que exorcizar nossas brigas de família – com nossos irmãos-meio-irmãos filhos de Ish’mael; com nossos filhos cristãos que tomaram um caminho distinto do nosso, e até mesmo enfrentar uma terapia de casal entre as diversas correntes do judaísmo atual. Temos que compreender todas estas frentes como sendo internas, questões internas. Pois quem briga com irmãos como no caso de Jacó, briga com D’us; pois quem repudia seus filhos sofre infinitamente; e o casal que não se ocupa de seus problemas acaba em divórcio.

É do despertar para este inimigo interno individual que dependem tantos de nossos sonhos do futuro. E é este inimigo que queremos perceber nestes Dias Intensos. São os obstáculos plantados em nós que não nos permitem ser a melhor versão de nós mesmos, que nos tornam defendidos projetando para o mundo exterior a sombra destes inimigos internos e que não nos permitem discernir entre "benção" e "maldição" que constituem a entidade "diabólica" do "Outro".

Para a tradição mística é este Outro que estaremos afastando com o barulho do Shofar. Para quem não compreende o verdadeiro significado destes dias estaremos afastando os maus fluidos, os azares e os males. Mas para bom entendedor o som do Shofar é para o despertar interno. Alarme para que tomemos posição para enfrentar as batalhas diárias deste 5758 quando desde o âmago de nosso ser emergir a insegurança, a frustração, a inveja e o apego. Utilizando-se das palavras de Moisés neste fim de Torá: "Tudo isto que vos alerto não está longe de ti [fora]…A coisa esta perto de ti e muito!…".

Que este novo ano nos inscreva no Livro da Vida, do discernir que a vida se processa na relação interna entre o mundo e nós e não na expectativa de que desde fora ganhos, sucesso ou conquistas nos tragam o que tanto desejamos.


LE-SHANA TOVÁ TIKATEVU VE-TECHATEMU !


PARASHÁ