O SAGRADO, O HUMANO E O PROFANO |
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Rabino Nilton Bonder A CJB realizará um shabat dedicado a um episódio complexo, repleto de nuances. Diz respeito a prostituição de mulheres judias no final no final do século XIX e na primeira metade do século XX, conhecidas como "polacas". Nada diz tanto do humano quanto seus dois aspectos maiores: o sagrado e o profano. Qualquer tentativa de excluir uma destas características retratará qualquer coisa, menos o que é humano. Shabat é o encontro entre o sagrado do dia de descanso e o profano dos dias da semana. Shabat é uma amostra daquilo que o ser humano imerso em sua condição profana consegue alcançar no território do sagrado. Simbolicamente este episódio das "polacas" expõe de forma comovente o esforço de integrar profano e sagrado mesmo diante de condições tão extremas. Revela assim aspectos profundamente humanos. O episódio das "polacas" tem raízes na pobreza
extrema de grande parcela da população judaica do Leste
Europeu. Foram, acima de tudo, vítimas da miséria, da má
fé, do aliciamento, da imigração, da falta de perspectiva
e de tantos outros males que afligiram os judeus para além das
perseguições religiosas e racistas. Prova maior de seu esforço pelo sagrado está em sua
organização comunitária criada nos moldes do que
de mais meritório existia na estrutura da coletividade judaica.
Reflexo do berço religioso de muitas, fundaram uma sinagoga que
lhes servia para os dias santos. Formaram um fundo de ajuda mútua,
inspiradas na preocupação social judaica e estabeleceram
também um cemitério judaico para que pudessem ser conduzidas
a seu descanso final como judias. Tais preocupações com
a benemerência e a preservação de sua identidade Sem romantismos e sem prejulgamentos morais, queremos resgatar a luta
dessas A grande interdição judaica à prostituição não se refere à prática mundana da venda do próprio corpo. Está dirigida no texto do Shemá a todos os seres humanos e de forma ampla. "E não seguireis atrás dos sentimentos de teu coração nem da visão de teus olhos pelos quais vocês se prostituem...." Nem na prostituta está o profano, nem no santo ou sábio está o sagrado. Em ambos habitam o humano e só os céus conhecem o que de mais recôndito há nos corações, quais desses se prostituem e em que nível. Ao entrarmos na força gravitacional das Grandes Festas, quando
autorizados por tribunais terrenos e celestes na noite do Kol Nidrei a
rezar com toda a comunidade independente de seus erros e acertos, possa
este shabat ser de resgate. Por um lado do legado pelo esforço
ao sagrado das "polacas". Por outro, de uma NILTON BONDER é rabino e escritor |