KUSHIAS - PERGUNTAS E A PRIMAVERA


 

 
 

Pessach é o festival da primavera. Aviv - a primavera - tem a mesma raiz de Av, pai e significa "a origem" ou "a autoria". A fertilidade masculina, paternal, é a energia maior desta estação que fecunda a mãe terra despertando a latência feminina e iniciando a semeadura do Omer.

Esse acordar de eros na natureza (Shir há-shirim) é o tema subliminar do Pessach. O tema tradicional fala do despertar do povo para a liberdade. Seu desejo e volição se voltam às possibilidades da vida, ansiando por maior amplitude e por uma dinâmica que comumente chamamos de crescimento. A Saída do Egito - Ietsiat Mitsraim - é o brotar da terra, a passagem da energia mineral e material para a busca da energia luminar. As pirâmides e a argamassa é a terra de onde sai a vida (De onde você vem? De Mitsraim, da terra!) e a Tora-Terra-Prometida é a luz para onde vai a vida (Para onde você vai? Para Sinai-Yerushalaim, para a luz!). Aqui se processa o despertar do mundo vegetal para a possibilidade de combinar sua matriz energética dos minerais que em seiva passam de suas raízes com a energia luminar que em fotossíntese é capturada pelas folhas nos galhos. Esse casamento entre sol e terra, entre o poder de fecundar do sol e a fertilidade da terra reconhecemos em Aviv, a força da primavera.

A capacidade de romper com as limitações minerais e se fazer vegetal é uma transcendência que só pode ser descrita como "atravessar um mar à seco". A semente canaliza os minerais para conhecerem a liberdade de se experimentar vegetais. De Charosset, argamassa, ao Karpas, o verdejar, temos o primeiro sinal de redenção.

A passagem (o Pessach) continua na transcendência de vegetal a animal. A liberdade e o desejo de "sair" levam o povo a conhecer a mobilidade, o caminho no deserto, do Maror, da amargura de estar atrelado e atolado, à Matsa, o pão da migração. Os hebreus transcendem uma vida vegetativa e despertam de uma hibernação que transcende o vegetal e os redime como parte do reino animal. Sem raízes o que é animal corre, nada e voa exercendo a liberdade.

A transcendência primaveril derradeira, no entanto, é a passagem de animal a humano. Esse é o caminho que leva ao Shulchan Aruch (à mesa posta), à Tora e ao Sinai. Livres para exercer seu potencial pleno, o humano usa o pensamento e o discernimento como redenção da estreiteza animal. E o fermento dessa redenção é a pergunta. Inquirir é o ato supremo de liberdade. Indagar é o despertar máximo de um mineral que se conhece vegetal e de um animal que irrompe humano. Ao cumprir-se o que é potencial se estabelece a liberdade.

O mais significativo dos alimentos da Keará e do Seder, é a pergunta. O que é diferente esta noite - Ma nishtana? -- representa o despertar indispensável já que só acordados nos fazemos livres. No trajeto de latente ao fulgor; ou de inconsciente ao questionador, aqui se encontra a verdadeira passagem - o Pessach. Chag Sameach!

Rabino Nilton Bonder