IAMIM NORAIM


 

 
 

Perdidos nas quinquilharias do ano que passou - entre os momentos perdidos, os momentos repetidos, os momentos sem presença e os momentos em que não estávamos - os Dias Intensos nos desafiam numa busca por nós mesmos.

Queremos resgatar uma identidade proveniente de uma saudade mas que não é do passado... uma saudade de agora, uma saudade de si aqui nesse momento.

Tal como Abrão que expõe a crença que seu pai não crê, queremos saber as crenças que achamos que temos mas que verdadeiramente não cremos. Buscamos um abraço com a verdade e desconfiamos de nossos discursos e justificativas afinal,

Quem fala em Flor não diz tudo

Quem fala em Dor diz demais...

Os Iamim Noraim nos ajudam a conhecer nosso tamanho, uma proporção que quando não conhecemos gera tristeza, inadequação e saudade. Nesses dias Deus confisca a identidade idólatra de culto a um Ego desproporcional e nos oferece a remissão e o indulto de estarmos contentes com nossa porção, livres de ser “tudo” para gozarmos de ser “todo”. Ser todo é não mais invejar querendo ter o talento do outro, o status do outro, o estilo de vida do outro, o futuro ou o passado do outro. Ao contrário, significa aceitar sua vida, mas não com uma resignação estóica e sim com uma suave dignidade.

Estes dias de Tshuva, de Transformação começam com esta auto-aceitação de que somos um “eu” minúsculo e que, mesmo ambivalentes, estamos aqui para suplicar por esse encontro que nos roube num sopro esse “EU” maiúsculo que nos obstrui a vida.

E não há como mudar sem aceitar esse “eu” que é menor, que não é uma entidade independente. Ver Deus é descobrir que o absoluto não sou EU e este susto produz uma resistência que é seguida de alívio. Trata-se do alívio de ser resgatado entre o pânico de não ser ninguém e a asfixia de ser um “EU”. Isso permite com que sejamos alguém - não o centro e nem um excluído do processo da vida – mas uma parte de algo maior.

O sopro de Deus dá, o sopro de Deus tira.

Dá a vida e tira a arrogância.

Que estes dias nos tragam a bênção de estar diante do NOME. Que esse encontro ajude a sarar as feridas de nossas almas expressas nas distâncias que existam de nós para nós mesmos! Desfazendo assim nesse novo ano o amargo da solidão e da ausência. Afinal, isso é o que tradicionalmente nos desejamos: ser inscritos no Livro de uma vida doce!

Rabino Nilton Bonder