JUDAÍSMO GÁSTRICO

Rabino Nilton Bonder


 

 

A comunidade judaica parece ter descoberto um importante filão em sua estratégia de sobrevivência: o do judaísmo que se ganha pelo estômago.

Outro dia numa instituição judaica vi postados vários anúncios de "Churrasco", "Sushi", "Tshulent" e outras variações gastronômicas com o intuito de atrair principalmente os jovens. Entre todas, não há dúvida que a mais espetacular é a que oferece não uma única modalidade de "sustento" em troca de comunidade e Tora, mas a mais completa e versátil de todas: dinheiro!

Agora um jovem que queira se deixar atrair por sua tradição e pelo estudo da Tora será recompensado por sua aquiescência com um soldo. Esse soldo é chamado de "Kiruv" - aproximação.

Realmente Pavlov já havia definido em termos científicos que há aumento de produção de salivação toda a vez que se acena com uma retribuição ao estômago. A repetição deste adestramento com certeza fará nossos jovens se aproximarem mais. Poderemos então como no Sea World produzir impressionantes espetáculos em que jovens irão recitar a Torá e dissertar sobre filosofia e halachá sendo imediatamente recompensados com um sushi oferecido por seu mestre.

Teremos ensinado que por um valor mínimo até a Tora faz sentido. E associaremos para sempre a Tora com valores tão importantes. A venda de si é apenas um meio justificado pelos fins. Quão bonito é ver jovens judeus reunidos para ganhar umzinho. Quão especial ensinarmos a eles a se deixarem aliciar e vender sua alminha. Afinal afirmam os eruditos e as lideranças de que é por boa causa. Nunca fomos tão próximos das seitas e do jeito que as coisas vão a catequese ira lentamente substituir o velho método de educação pelo ato amoroso do professor que instruía e iluminava as mentes de seus discípulos.

É por que se tratava de um judaísmo cardíaco e não gástrico. Um judaísmo que queria apaixonar os corações e não os estômagos judaicos. O instrumento do judaísmo era o amor que se expressava na justiça e na compaixão. Agora se expressa no apetite.

Diziam os profetas que iríamos conhecer nos tempos messiânicos uma "circuncisão do coração". E um novo coração seria o instrumento amoroso para a construção de um mundo distinto que pudesse ser recipiente da paz.

Estamos agora mais perto de uma "lipoaspiração do estômago". Dela advirá uma nova forma reptiliana de sermos judeus. Com esse novo estômago nossos jovens poderão estudar enquanto fazem sua digestão.

Estamos nos aproximando sim, mas é da caricatura que os anti-semitas fazem de nós. Essa é a religião que ensinava a dar e agora ensina a ganhar. Esse soldo é o oposto da tsedaka o ensinamento da entrega e não do ganho.

E se esse dinheiro existe não poderia haver um único necessitado em nossa comunidade. Como será pago esse dinheiro? Em que guichê? Não será estranho que alguém, por puro lapso, venha a confundir sinagoga com banco.

Palavras indigestas?

Talvez, mas são palavras de coração que, é claro, podem ser ouvidas com o estômago.

Rabino Nilton Bonder


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